sexta-feira, 1 de março de 2019

Farmacologia da Hipertensão Arterial Sistêmica


Farmacoterapia da Hipertensão Arterial Sistêmica

Estágios da HAS (De acordo com a 7ª Diretriz de Hipertensão Arterial Sistêmica):
PA Normal:                                120  x   80
 PA Pré-hipertensão:        121-139 x  81-89
Estágio I:                             140-159 x  90-99
Estágio II:                            160-179 x  100-109
Estágio III:                    = ou > a 180 x 110

No caso, a PAS aumenta de 19 em 19 a partir de 120 e a PAD aumenta de 9 em 9 a partir de 80.
Quando devo iniciar a terapia medicamentosa ?

Em pacientes em estágio II ou III (PA = ou > que 160x100) ou pacientes Estágio I com Risco Cardiovascular Alto, deve-se iniciar a combinação da terapia não medicamentosa (dieta, exercício físico, controle dos fatores de risco) + a terapia medicamentosa.
Como devo iniciar essa terapia medicamentosa?
Em pacientes Estágio I de baixo a moderado RCV – Monoterapia   com qualquer classe farmacológica (somente o BB deve ser usado em casos específicos como IC)+ terapia não medicamentosa.
Caso a monoterapia + TNM não for eficiente para reduzir a PA, lança-se mão de outros mecanismos como Aumento da Dose, Substituição por Outra Classe Medicamentosa ou associação de um segundo medicamento.
Caso nada disso se provar efetivo na redução da PA, pode-se associar outros medicamentos.

Já pacientes no Estágio I com Alto Risco Cardiovascular ou pacientes no Estágio II ou III, deve-se associar o TNM + Combinações de dois fármacos de classes diferentes em doses baixas.
Caso a Combinação de dois Fármacos + TNM não for eficiente na redução da PA, considera-se Aumentar as doses, mudar a combinação de classes ou associar um terceiro medicamento.
Caso nada disso se provar efetivo na redução da PA, pode-se associar outros medicamentos.

Classes Farmacológicas:
Diuréticos- São a classe que inicialmente promovem seu efeito anti-hipertensivo devido a queda da volemia, no entanto, algum tempo depois por mecanismos compensatórios essa volemia se estabiliza. Porém, por motivos desconhecidos, os diuréticos causam a diminuição da Resistência Vascular Periférica , o que diminui a PA.
Eles são subdivididos de acordo com características específicas:
Tiazídicos
Diuréticos de Alça
Polpadores de Potássio
Algumas características são gerais a todos os diuréticos: A hiponatremia, que é a baixa dos níveis séricos de Sódio, hipomagnesemia, hiperuricemia (por compensação da alta excreção de sódio, o néfron absorve muito ácido úrico, aumentando seus níveis no sangue, o que pode precipitar uma crise de gota ), também a Impotência Sexual
Tiazídicos- Agem bloqueando a reabsorção de Na/K/2Cl no Túbulo Contorcido Distal.
Pode causar Hipocalemia que aumenta o risco de morte súbita cardíaca por arritmias , pois a baixa concentração de potássio causa um desbalanço eletrolítico que causa hiperpolarização de membrana, ou seja, contrações fracas e desreguladas(porque também afeta as células do nó sinusal e que tem as chances de problemas cardíacos aumentadas em pacientes com uso de digitálicos, já que a digoxina compete com o potássio pela bomba Na/K).
Esse medicamento causa bloqueio na liberação de insulina pelo pâncreas (), isso explica a disfunção do metabolismo dos glicídios e lipídeos, causando hiperglicemia e hiperlipidemia, sendo contra-indicado para pacientes cm dislipidemias e/ou diabetes mélitus.
Por fim, os Tiazídicos aumentam a reabsorção de cálcio, sendo bom para pacientes com osteoporose, pois aumenta a calcemia.
Representates farmacológicos-
Hidroclorotiazida, clortalidona, indapamida.

Diuréticos de alça- Atuam no bloqueio da reabsorção de Na/K/2Cl no ramo ascendente da alça de henle, promovendo uma natriurese muito maior que os tiazídicos, espoliando muito volume, sendo indicado somente em hipertensão associada a hipervolemia. E, ao contrário dos tiazídicos, os diuréticos de alça aumentam a calciuria(sendo evitados em pacientes com histórico de nefrolitíase) e diminuem a calcemia.
Obs- São usados em pacientes com insuficiência cardíaca crônicamente para evitar descompensamento, ou em doses maioires quando ocorre a descompensação.
Representantes farmacológicos- Furosemida, bumetanida

   Poupadores de potássio: Agem de duas maneiras
Espironolactona e Eplenorona- Bloqueia diretamente o receptor de aldosterona(Receptor Mineralocorticoide ), e por isso são a primeira escolha para tratamento da HAS por hiperaldosteronismo primário e é considerada a quarta escolha para associação em pacientes de HAS resistente.
Outro fato importante é que ele reduz a mortalidade na Insuficiência cardíaca por bloquear os efeitos deletérios que a aldosterona provoca no coração.
Amilorida e Triantereno- Bloqueiam o canal epitelial de sódio (ENaC) induzido pela aldosterona nas células do tubo coletor(pois a aldosterona induz a produção desses canais para difusão rápida de sódio do lúmen do tubo coletor para as células principais do mesmo, isso diminui o funcionamento da bomba de Na/K basolateral , local onde ocorre a reabsorção de sódio em troca da secreção de potássio e hidrogênio, por ação da aldosterona).
Ao ser combinado com os Tiazídicos é uma boa opção para pacientes com hipocalemia.

BCC- Bloqueadores dos Canais de Cálcio: Reduz o influxo de cálcio para o citoplasma.
São divididos em (1)Di-idropiridínicos e (2) Não-di-idropiridínicos
(1)    Di-idropiridínicos são VASOSSELETIVOS, ou seja, atuam especificamente no bloqueio dos canais de cálcio localizados nas células musculares lisas da parede das arteríolas, promovendo vasodilatação e redução da pós carga por redução da RVP. São os mais usados como anti-hipertensivos pois não interferem na contratilidade miocárdica. Representantes farmacológicos- Nifedipina, Anlodipina, Felodipina...
Seus efeitos colaterais são: Edema maleolar (algumas pessoas tem resposta vasodilatadora exagerada nos MMII), dermatite ocre no terço distal da perna, e sintomas encontrados em qualquer tipo de vasodilatador- cefaleia, tonteira, rubor facial.
Nifedipina antigamente era usada via sublingual  nas crises hipertensivas, o que causava taquicardia reflexa devido a baixa muito rápida da PA. Hoje, se usa estritamente na forma oral e a nifedipina é de liberação prolongada.

(2)    Não di-idropiridinicos são cardiosseletivos, ou seja , só agem nos cardiomiócitos e tecidos de condução. Atuam reduzindo o débito cardíaco, causando bradicardia. É a opção para hipertensos que precisam reduzir a FC e não podem usar BB, como portadores de Angina Pectoris (vasoespasmo reflexo), asma ou DPOC (broncoespasmo reflexo)
O principal representante farmacológico é o Verapamil.
Efeitos colaterais: Agrava a ICFER, causa bradicardia, bloqueo AV e constipação.

IECA-  Bloqueiam a Enzima conversora de Angiotensina, ou seja, reduzem a formação de Angiotensina II e assim reduzem seu efeito vasoconstritor potente, além  de aumentar a quantidade de bradicinina (vasodilatador), em suma diminui a pós carga pois diminui a RVP.
São excelentes anti-hipertensivos e muito úteis na ICFER e no IAM anterior extenso, pois diminuem o remodelamento cardíaco induzido pela angiotensina. Também é muito útil em pacientes com nefropatia diabética ou doença renal crônica, pois promove vasodilatação seletiva da arteríola eferente do glomérulo, tendo portanto efeito nefroprotetor().
So deve ser suspensa se: houver aumento da creatina >30-35% em relação ao basal e/ou franca hipocalemia.
DRC prévia muito avançada, estenose bilateral da artéria renal ou unilateral, ICFER prévia muito avançada, cirrose hepática e hipovolemia , pois a TFG é mantida pela ativação da SRAA.
E, por fim, tosse seca (acúmulo de bradicininas), angioedema, IRA na doença renovascular.
São teratogênicos, por isso são contra-indicados na gestação.
Representantes Farmacológicos- Captopril, Enalapril...

BRA- Bloqueador do Receptor(AT2) de Angiotensina II:  Enquanto o IECA age bloqueando a formação de Angiotensina II, os BRA agem diretamente nos receptores da Angiotensina II, bloqueando seus efeitos como o remodelamento cardíaco e vasocontrição potente . Apesar de similares, tem-se os IECA como preferência em relação aos BRA(porque o acúmulo de bradicininas, quando não causa efeitos colaterais, tem efeitos benéficos adicionais de vasodilatação). No entanto, quando encontrada contra-indicações ao IECA (Efeitos Colaterais: Tosse seca e/ou Angioedema), deve-se usar o BRA em seu lugar. Um fato importante é que o uso concomitante de IECA + BRA é CONTRAINDICADO, causando mais efeitos colaterais que benefícios, ou seja, so se pode usar um ou outro. BRA é igualmente teratogênico.
O Losartan tem efeito uricosúrico, reduzindo a uricemia, sendo boa escolha para pacientes com histórico de gota
Representantes farmacológicos: Lozartana

BB- Os Beta-Bloqueadores atuam inibindo a ação da norepinefrina nos receptores Beta 1 do coração, assim diminuem a Frequência cardíaca, a Força de contração e  a condução atrioventricular, o que justifica seus efeitos anti-anginosos e antiarrítmicos. Promovem também a redução da ativação do SRAA, bloqueando quando a norepinefrina estimula a secreção de renina no aparelho justaglomerular.
Mas, ao bloquear receptores beta 2 adrenérgicos(presentes no M. liso dos brônquios, hepatócitos e vasos sanguíneos), causa vasoconstrição, broncoconstrição e redução da liberação hepática de glicose estimulada por catecolaminas, ou seja, os BB de 1ª e 2ª geração são contraindicados na DPOC, Asma, no BAV de 2 e 3 graus, alpem de intoxicação por cocaína e na angina de Prizmetal(vasoespástica) PIS o bloqueio dos receptores beta faz o estímulo dos alfa 1 que são vasoconstritores, como forma de reflexo.
Os de 3ª geração como carvedilol e nebivolol não prejudicam mas melhoram o metabolismo de glicídios e lipídeos, até favorecem a maior captação de glicose pelos tecidos.
Nebivolol aumenta o oxido nítrico nos vasos, causando vasodilatação e sendo boa opção para pacientes com Impotência Sexual- que é um efeito colateral de todos os DIU.

Fonte: Medcurso 2017